O grande jurista, Rui Barbosa,
sabia muito bem o que estava falando. Ter um direito expresso em lei não
garante de fato o gozo dele. Não é tão simples assim. Se consultarmos a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Constituição Federal, o Código de
Defesa do Consumidor, o Estatuto da
Criança e do Adolescente ou o Estatuto do Idoso, como tantos outro códigos de
leis, veremos a distância entre a letra da lei e a sua vivência no cotidiano.
Em muitos casos o simples acesso à justiça não é direto, depende de um
mediador, um advogado, de um instrumento jurídico apropriado. Trata-se de uma
relação institucional, regulamentar, controlada, com seus ritos e cerimonial.
Lutar por seus direitos começa
com a luta pela eleição de representantes comprometidos com certos ideais
que desejamos que sejam legitimados para se confrontar com outros ideais
representados por outros representantes que se identificam com outros grupos
interessados. No parlamento ocorre então o confronto de ideais, o embate entre
eles, as propostas, a discussão, a negociação e, de acordo com a conjuntura, a
correlação de forças, teremos as leis que compõem os direitos. Mas não termina
aí, pelo contrário. Haverá sempre alguém
que será ou punido ou restringido por ela em seus interesses e que havendo
possibilidades irá lutar contra ela. Aí adentramos em outra instância, a da
aplicação da lei. A autoridade policial, os tribunais, onde vão parar as
relações conflituosas que não conseguem ser resolvidas entre as partes
envolvidas.
Quando a relação é entre
grupos dominantes e as classes populares como,
por exemplo, as relações de
trabalho (patrão e empregado), a gestão
pública (governantes e governados), a luta é coletiva, de interesse das
amplas camadas populares. Estas se organizam em movimentos sociais, partidos
políticos, ONGs, sindicatos. O processo de mudança é muito lento e depende de
participação e convencimento da sociedade. Adentramos em outro campo, a mídia.
Convencer amplas camadas sociais exige trabalho midiático e aí se encontram em
disputa os grupos hegemônicos da sociedade uns com maior e outros com menor
poder de influência e controle desses veículos. Neste nível a luta se torna
bastante complexa e difícil até para o cidadão comum se posicionar dada as
regras do jogo e as estratégias sutis de convencimento.
Enquanto cidadão comum, é importante
estar informados dos direitos, buscar a justiça para resolver os conflitos inconciliáveis,
respeitar as leis para evitar problemas com a justiça, se engajar politicamente
em instituições idôneas que tenha fins que convergem para melhoria dos
interesses que mais diretamente lhe afetam, apoiar as causas de defesa dos
interesses das minorias, ficar vigilante, em nível local (seu bairro, cidade)
em relação a atuação das autoridades e do funcionamento das instituições ou órgãos
públicos. Procurar captar as questões nacionais, os grandes debates do momento,
os diversos posicionamento a respeito na mídia, quem são os atores, suas
origens e trajetórias. E assim vamos nos aperfeiçoando como cidadãos. A
cidadania assim como a sociedade é uma construção nossa.
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