Hermógenes
Se, ao final
desta existência,
Alguma
ansiedade me restar
E conseguir
me perturbar;
Se eu me
debater aflito
No conflito,
na discórdia...
Se ainda
ocultar verdades
Para
ocultar-me,
Para
ofuscar-me com fantasias por mim criadas...
Se restar
abatimento e revolta
Pelo que não
consegui
Possuir,
fazer, dizer e mesmo ser...
Se eu
retiver um pouco mais
Do pouco que
é necessário
E persistir
indiferente ao grande pranto do mundo...
Se algum
ressentimento,
Algum
ferimento
Impedir-me
do imenso alívio
Que é o
irrestritamente perdoar,
E, mais
ainda,
Se ainda não
souber sinceramente orar
Por quem me
agrediu e injustiçou...
Se continuar
a mediocremente
Denunciar o
cisco no olho do outro
Sem
conseguir vencer a treva e a trave
Em meu
próprio...
Se seguir protestando
Reclamando,
contestando,
Exigindo que
o mundo mude
Sem qualquer
esforço para mudar eu...
Se,
indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas,
ais e lamúrias,
Persistir e
buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha
ainda imperiosa angústia...
Se, ainda
incapaz
para a
beatitude das almas santas,
precisar dos
prazeres medíocres que o mundo vende...
Se insistir
ainda que o mundo silencie
Para que
possa embeber-me de silêncio,
Sem saber
realizá-lo em mim...
Se minha
fortaleza e segurança
São ainda
construídas com os materiais
Grosseiros e
frágeis
Que o mundo
empresta,
E eu neles
ainda acredito...
Se,
imprudente e cegamente,
Continuar
desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores,
coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de
ser feliz...
Se, ainda
presa do grande embuste,
Insistir e
persistir iludido
Com a
importância que me dou...
Se, ao fim
de meus dias,
Continuar
Sem escutar,
sem entender, sem atender,
Sem realizar
o Cristo, que,
Dentro de
mim,
Eu Sou,
Terei me
perdido na multidão abortada
Dos
perdulários dos divinos talentos, Os talentos que a Vida
A todos
confia,
E serei um
fraco a mais,
Um traidor
da própria vida,
Da Vida que
investe em mim,
Que de mim
espera
E que se vê
frustrada
Diante de meu
fim.
Se tudo isto
acontecer
Terei
parasitado a Vida
E
inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei
meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter
atingido a Meta.
José
Hermógenes de Andrade Filho, mais conhecido como Prof. Hermógenes, é um
escritor, professor e divulgador brasileiro de hatha ioga. Fundador da Academia
Hermógenes de Yoga e autor de Yoga para Nervosos, dentre outros.
Nascido em
1922, em Natal, Rio Grande do Norte, José Hermógenes de Andrade Filho é
considerado o pioneiro em medicina holística no Brasil, com mais de 42 anos de
prática e ensino de yoga. Filósofo, poeta, escritor e terapeuta, o professor
Hermógenes costuma dizer que se sente mais jovem hoje, aos 82 anos, do que se
sentia aos 35. Doutor em yogaterapia, título concedido pelo World Development
Parliament, da Índia, é o criador do treinamento anti-stress.
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