Votar é um direito, direito que foi conquistado com muita luta. O que para os jovens parece ser algo tão natural pela História compreendemos que poder escolher quem governa, dependendo da época e do lugar pode ser algo impensado. O voto no Brasil também é um dever, ninguém é obrigado a votar em ninguém, mas para manter-se em dia com a justiça, ou seja, para preservar os direitos que como cidadãos podemos usufruir, o indivíduo é obrigado a comparecer a sua seção eleitoral para votar, nem que seja em branco ou nulo. Aí cabe uma reflexão: para que haja uma lei como essa, que obriga o cidadão a comparecer à seção eleitoral, tem de haver um justificativa, ou seja, uma necessidade, uma eficácia da mesma. Isso leva a outro questionamento: quantos brasileiros compareciam para votar caso não houvesse tal lei? O que nos leva a perguntar novamente: por que os cidadãos não se sentem motivados a votar, não valorizam esse direito tão importante dando-lhe a dignidade que ele merece? Não é possível dar uma resposta única, exata, precisa a esses questionamentos visto se tratar de um fenômeno complexo, mas podemos fazer inferências a respeito.
A política em sua essência é um
fenômeno um tanto nebuloso, é um jogo de interesses cheio de contradições e
dominado pelas ideologias que legitimam as posições. Ao apoiar político A ou B
o que há de subjacente é esse conjunto de valores que orientam as ações das
pessoas os quais genericamente denominamos
de ideologia. “Ideologia”, como dizia Cazuza, “eu quero uma pra viver”, é algo que todos temos, conscientes ou não,
quer a analisemos ou reflitamos sobre
ela ou não, carregamos conosco. Nenhum ser-humano com saúde mental pode viver indiferente ao mundo que o rodeia, sem um
juízo de valor – bom, ruim, certo, errado, adequado, inadequado, aceitável,
inaceitável. No entanto, o que complica as coisas é que a ideologia, ou seja, esse
conjunto de valores que, conscientemente ou não, dominam nossas ações e
posições diante do mundo não é livre, melhor dizendo, não se trata de uma
adesão que as pessoas fazem livremente. Muitas vezes as pessoas até imaginam
que aderiram àquela forma de pensar de maneira voluntária, por afinidade, mas devemos levar em consideração que a
cultura é construída e que mesmo que não sejamos totalmente passivos diante das
influências que sofremos no processo civilizatório, não podemos negligenciar o
poder da mídia, da religião, do mercado, enfim, os grupos dominantes que
acabam, como aprendemos em Karl Marx, impondo sua ideologia para todos os
outros grupos. Opa! Como é isso!
É bem simples, conforme nossa
posição ou situação no mundo, tendemos a pensar e valorizar determinadas
coisas, ideias e atitudes, até aí é normal. Acontece que como algumas pessoas
detém poder econômico e simbólico (cultural) maior que os demais elas são
dotadas de muito mais capacidade para disseminar seus valores (interesses) na
sociedade como um todo. Imagine o dono de um jornal, uma emissora de televisão, uma emissora de
rádio, um escritor famoso ou os grandes grupos empresariais, deles fazem parte
grupos de pessoas que possuem poder de influência infinitamente grande se
comparado com cidadãos comuns, simples trabalhadores, assalariados médios,
etc., e isso homogeneíza de certa forma o modo de pensar de uma sociedade em
uma dada época porque os valores desses
grupos tendem a serem assimilados de
forma abrangente pelo conjunto da sociedade, valores esses que vão de encontro
aos interesses dos mesmo por isso sempre convergem para conservação de seus
privilégios, é por isso que esses grupos são chamados de “conservadores”.
Parafraseando cazuza, “ideologia,
eu que uma pra viver” melhor, eu levanto a questão: será que o melhor para mim
é a mesma coisa que o melhor para um banqueiro, um empresário, um médico dono
de uma clínica particular? Pegando esse último exemplo, será que a política
nacional de saúde que interessa a esse último é a mesma que interessa a mim? Ou
um exemplo mais ilustrativo, os interesses, em termos de programas nacionais de
saúde, que me servem, são os mesmos para os donos de planos de saúde privados? Acredito,
no entanto, que essas pessoas têm muito mais poder para influenciar as
outras e os governos sobre a política ou programa nacional de saúde
do que qualquer cidadão comum, só pra citar um exemplo e eu poderia tê-lo feito
em qualquer área: educação, segurança pública, transporte, agricultura etc.
Então o que fazer?
É difícil ter uma ideia límpida,
cristalina diante de um mundo tão caótico como o em que vivemos, diante de uma
situação tão problemática como a nossa, aliás, se a realidade humana em si já é controversa, no Brasil então,
parece que isso se acentua, os interesses opostos, as disparidades de poderes,
os pesos tão desproporcionais no que tange a esse poder de influência são
potencializados pelo índice de analfabetismo, falta de acesso à cultura de
forma geral etc. que gera toda essa confusão no coração e na mente do povo, um
prato cheio para exploração de sua boa-fé. No entanto, podemos pensar da
seguinte maneira: excluindo aquilo que temos como modelo ideal e olhando para a
realidade concreta, nesse momento de eleição, de quem podemos esperar políticas públicas que
proporcionam mais melhorias ou conquistas ao cidadão comum, trabalhador
assalariado ou autônomo, jovem estudante de origem pobre, o aposentado de baixa
renda, a dona de casa, as pessoas que vivem nos rincões e assim por diante.
Conhecendo como conhecemos a trajetória dos candidatos a presidente da
República, os governos passados aos quais foram vinculados, os grupos que os sustentam e os financiam, comparando
seus discursos e suas práticas podemos chegar a conclusões bem óbvias de quem
devemos escolher.
Nem é necessário citar o nome do partido ou da pessoa que está
candidata, acho que só pelos fatos ou ideias aqui colocadas, automaticamente,
remetemos a quem de fato tem contribuído para o avanço social brasileiro que
muitas vezes determinados grupos tentam desconstruir no imaginário da população.
Ideias negativas sobre o Brasil têm sido disseminadas pela imprensa e alguns
grupos inconformados desejosos de mais poder, entretanto, dizer que o Brasil de
hoje é pior que o de ontem é um absurdo, esconder as coisas horrorosas que
ainda persistem no país também não está certo – violência, trânsito caótico, serviços
públicos de baixa qualidade, corrupção e assim por diante -, mas temos que
aceitar que o passado foi muito, muito
pior. Temos que nos render ao fato de que é raro um brasileiro que não tenha
experimentado alguma melhora em sua vida na última década.
Muitos centralizam no crescimento
econômico a ideia de progresso de uma
nação, claro que crescimento econômico é importante porque reflete em mais
empregos, mais arrecadação de impostos para investir em diversos setores etc.,
no entanto, não podemos esquecer-nos de como o país cresceu economicamente
durante os governos ditatoriais pós 64, período que ficou conhecido como
“milagre brasileiro”. Sabemos, entretanto, que foi nessa fase que os
trabalhadores brasileiros, os cidadãos mais pobres, mais sofreram, foi uma
época de violência e miséria para a grande maioria da população de nosso país.
Crescer concentrando riqueza não nos interessa, isso não é desenvolvimento,
isso não é progresso. Se o governo brasileiro tivesse priorizado o crescimento
econômico - e o país tem crescido - , os investimentos em infraestrura - que
também tem acontecido, ao meu ver, razoavelmente - como
muitos críticos gostam de falar, em detrimento da distribuição de renda e de
outras conquistas sociais, quem sabe poderíamos estar crescendo como a China como muitos gostariam, mas nossa realidade é
outra, não interessa para a maioria dos brasileiros esse tipo de projeto.
Aumentar, por exemplo, a oferta de trabalho concentrando a riqueza, super explorando
o trabalhador não é a melhor opção do ponto de vista dos trabalhadores,
melhorando as relações e condições de trabalho, diminuindo a jornada e outras
medidas como estas, isso sim. A solução que tem como base o aumento constante
da economia e do consumo não me parece sustentável. Vejamos que tem propostas
mais sensatas, histórico mais coerente, compromisso com o social, posicionamento
mais democrático, capacidade administrativa e quadros políticos que permitam
garantir a estabilidade que o país necessita.
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