domingo, 7 de setembro de 2014

ELEIÇÕES 2014 – Acreditando na democracia







Votar é um direito, direito que foi conquistado com muita luta. O que para os jovens parece ser algo tão natural  pela História compreendemos que  poder escolher quem governa, dependendo da época e do lugar pode ser algo impensado. O voto no Brasil também é um dever, ninguém é obrigado a votar em ninguém, mas para  manter-se em dia  com a justiça, ou seja, para preservar os direitos que  como cidadãos podemos usufruir, o indivíduo é obrigado a comparecer a sua seção eleitoral para votar, nem que seja em branco ou nulo. Aí  cabe uma reflexão: para que haja uma lei como essa,  que obriga o cidadão a comparecer à seção eleitoral, tem de haver um justificativa, ou seja, uma necessidade, uma eficácia da mesma. Isso leva a outro questionamento: quantos brasileiros compareciam para votar caso não houvesse tal lei? O que nos leva a perguntar novamente: por que os cidadãos não se sentem motivados a votar, não valorizam esse direito tão importante dando-lhe a dignidade que ele merece? Não é possível dar uma resposta única, exata, precisa a esses questionamentos visto se tratar de um fenômeno complexo, mas podemos fazer inferências a respeito.
A política em sua essência é um fenômeno um tanto nebuloso, é um jogo de interesses cheio de contradições e dominado pelas ideologias que legitimam as posições. Ao apoiar político A ou B o que há de subjacente é esse conjunto de valores que orientam as ações das pessoas os quais genericamente denominamos  de ideologia. “Ideologia”, como dizia Cazuza, “eu quero uma pra viver”,  é algo que todos temos, conscientes ou não, quer a analisemos ou reflitamos  sobre ela ou não, carregamos conosco. Nenhum ser-humano com saúde mental pode viver  indiferente ao mundo que o rodeia, sem um juízo de valor – bom, ruim, certo, errado, adequado, inadequado, aceitável, inaceitável. No entanto, o que complica as coisas é que a ideologia, ou seja, esse conjunto de valores que, conscientemente ou não, dominam nossas ações e posições diante do mundo não é livre, melhor dizendo, não se trata de uma adesão que as pessoas fazem livremente. Muitas vezes as pessoas até imaginam que aderiram àquela forma de pensar de maneira  voluntária, por afinidade,  mas devemos levar em consideração que a cultura é construída e que mesmo que não sejamos totalmente passivos diante das influências que sofremos no processo civilizatório, não podemos negligenciar o poder da mídia, da religião, do mercado, enfim, os grupos dominantes que acabam, como aprendemos em Karl Marx, impondo sua ideologia para todos os outros grupos. Opa! Como é isso!
É bem simples, conforme nossa posição ou situação no mundo, tendemos a pensar e valorizar determinadas coisas, ideias e atitudes, até aí é normal. Acontece que como algumas pessoas detém poder econômico e simbólico (cultural) maior que os demais elas são dotadas de muito mais capacidade para disseminar seus valores (interesses) na sociedade como um todo. Imagine o dono de um jornal,  uma emissora de televisão, uma emissora de rádio, um escritor famoso ou os grandes grupos empresariais, deles fazem parte grupos de pessoas que possuem poder de influência infinitamente grande se comparado com cidadãos comuns, simples trabalhadores, assalariados médios, etc., e isso homogeneíza de certa forma o modo de pensar de uma sociedade em uma dada época porque  os valores desses grupos tendem a serem assimilados  de forma abrangente pelo conjunto da sociedade, valores esses que vão de encontro aos interesses dos mesmo por isso sempre convergem para conservação de seus privilégios, é por isso que esses grupos são chamados de “conservadores”.
Parafraseando cazuza, “ideologia, eu que uma pra viver” melhor, eu levanto a questão: será que o melhor para mim é a mesma coisa que o melhor para um banqueiro, um empresário, um médico dono de uma clínica particular? Pegando esse último exemplo, será que a política nacional de saúde que interessa a esse último é a mesma que interessa a mim? Ou um exemplo mais ilustrativo, os interesses, em termos de programas nacionais de saúde, que me servem, são os mesmos para os donos de planos de saúde privados? Acredito, no entanto, que essas pessoas têm muito mais poder para influenciar as outras  e os governos  sobre a política ou programa nacional de saúde do que qualquer cidadão comum, só pra citar um exemplo e eu poderia tê-lo feito em qualquer área: educação, segurança pública, transporte, agricultura etc. Então  o que fazer?
É difícil ter uma ideia límpida, cristalina diante de um mundo tão caótico como o em que vivemos, diante de uma situação tão problemática como a nossa, aliás, se a realidade humana  em si já é controversa, no Brasil então, parece que isso se acentua, os interesses opostos, as disparidades de poderes, os pesos tão desproporcionais no que tange a esse poder de influência são potencializados pelo índice de analfabetismo, falta de acesso à cultura de forma geral etc. que gera toda essa confusão no coração e na mente do povo, um prato cheio para exploração de sua boa-fé. No entanto, podemos pensar da seguinte maneira: excluindo aquilo que temos como modelo ideal e olhando para a realidade concreta, nesse momento de eleição,  de quem podemos esperar políticas públicas que proporcionam mais melhorias ou conquistas ao cidadão comum, trabalhador assalariado ou autônomo, jovem estudante de origem pobre, o aposentado de baixa renda, a dona de casa, as pessoas que vivem nos rincões e assim por diante. Conhecendo como conhecemos a trajetória dos candidatos a presidente da República, os governos passados aos quais foram vinculados, os grupos  que os sustentam e os financiam, comparando seus discursos e suas práticas podemos chegar a conclusões bem óbvias de quem devemos escolher.
Nem é necessário  citar o nome do partido ou da pessoa que está candidata, acho que só pelos fatos ou ideias aqui colocadas, automaticamente, remetemos a quem de fato tem contribuído para o avanço social brasileiro que muitas vezes determinados grupos tentam desconstruir no imaginário da população. Ideias negativas sobre o Brasil têm sido disseminadas pela imprensa e alguns grupos inconformados desejosos de mais poder, entretanto, dizer que o Brasil de hoje é pior que o de ontem é um absurdo, esconder as coisas horrorosas que ainda persistem no país também não está certo – violência, trânsito caótico, serviços públicos de baixa qualidade, corrupção e assim por diante -, mas temos que aceitar que o passado foi muito,  muito pior. Temos que nos render ao fato de que  é raro um brasileiro que não tenha experimentado alguma melhora em sua vida na última década.

Muitos centralizam no crescimento econômico a ideia de  progresso de uma nação, claro que crescimento econômico é importante porque reflete em mais empregos, mais arrecadação de impostos para investir em diversos setores etc., no entanto, não podemos esquecer-nos de como o país cresceu economicamente durante os governos ditatoriais pós 64, período que ficou conhecido como “milagre brasileiro”. Sabemos,  entretanto, que foi nessa fase que os trabalhadores brasileiros, os cidadãos mais pobres, mais sofreram, foi uma época de violência e miséria para a grande maioria da população de nosso país. Crescer concentrando riqueza não nos interessa, isso não é desenvolvimento, isso não é progresso. Se o governo brasileiro tivesse priorizado o crescimento econômico - e o país tem crescido - , os investimentos em infraestrura - que também tem acontecido, ao meu ver, razoavelmente -   como muitos críticos gostam de falar, em detrimento da distribuição de renda e de outras conquistas sociais, quem sabe poderíamos estar crescendo como a China  como muitos gostariam, mas nossa realidade é outra, não interessa para a maioria dos brasileiros esse tipo de projeto. Aumentar, por exemplo, a oferta de trabalho concentrando a riqueza, super explorando o trabalhador não é a melhor opção do ponto de vista dos trabalhadores, melhorando as relações e condições de trabalho, diminuindo a jornada e outras medidas como estas, isso sim. A solução que tem como base o aumento constante da economia e do consumo não me parece sustentável. Vejamos que tem propostas mais sensatas, histórico mais coerente, compromisso com o social, posicionamento mais democrático, capacidade administrativa e quadros políticos que permitam garantir a estabilidade que o país necessita.























Nenhum comentário:

Postar um comentário